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24/05/2019

Christian

Enquanto me preparo para a EXPEDIÇÃO MONGÓLIA BIKEPACKING, talvez a empreitada mais difícil e exigente daminha vida de aventureiro, estudo a tecnologia disponível no mundo que pode agregar autossuficiência, segurança, confiabilidade, menor peso e menor volume possíveis ao meu equipamento. No topo da lista de prioridades, junto com roupas apropriadas, abrigo e comida, está água potável. De todos os perigos existentes no mundo da aventura, depois de muito frio, o que pode nos matar mais rapidamente é a escassez de água. Diz a lenda que podemos viver três dias sem água, mas a questão na aventura não é apenas sobreviver. Sem água, expostos aos elementos na natureza e em atividade física, podemos ficar tão debilitados e entrarmos em risco de morte em muito menos tempo.

Diferente do Brasil, da Patagônia ou das Highlands da Escócia, lugares onde já me aventurei bastante — expedições que geraram produtos como o premiado filme-documentário TRANSPATAGÔNIA, o livro TRANSPATAGÔNIA: PUMAS NÃO COMEM CICLISTAS, o vídeo HIGHLANDS e o livro HIGHLANDS: POR BAIXO DO SAIOTE ESCOÊS —, na Mongólia posso enfrentar graves problemas de escassez de água. Se optar por um roteiro mais ao sul do país — lembrando que vou percorrer toda a extensão oeste-leste da Mongólia sozinho, de bicicletas e de forma autossuficiente— entrarei na zona do Deserto de Gobi. Se optar por uma rota mais ao norte, fico na zona de influência da Sibéria, bem mais fria, porém com abundância de água. Nas proximidades do Gobi, que não é um deserto de areia, como o Saara, existem poços e pequenos lagos de água acumulada pelas eventuais chuvas, mas tudo depende de informação local precisa e situação climática. Toda fonte de água estará em uso pela esparsa populaçãonômade e seus enormes rabanhos de ovelhas, cabras, cavalos, vacas, iaques e camelos. Um quebra-cabeça muito difícil de solucionar. De qualquer forma, a água existente não estará pronta para o consumo humano.

Depois de muita pesquisa a atento às novidades e lançamentos, cheguei ao meu kit definitivo, por enquanto, de coleta e tratamento de água.

Optei por um filtro SAWYER ALL IN ONE(o mais gordinho na foto abaixo) no lugar do também excelente e altamente recomendável MINI WATER FILTRATION FILTER (o mais magrinho). A razão é que o ALL IN ONE filtra um volume maior de água e portanto filtra mais rápido, além de trabalhar com filtragem por gravidade. Dispensei a garrafa flexível d’água SQUEEZABLE POUCH que faz parte do sistema. Esse cantil flexível é de material duro, incômodo para transportar, além de possuir apenas uma boca estreita de abastecimento e consumo.

Pra explicar em detalhes, o filtro SAWYERfunciona imitando nossos rins, com um complexo sistema de filtragem física, onde partículas muito pequenas, microscópicas, ficam retidas em orifícios capazes de impedir a passagem de 99,99999% de todas as bactérias, protozoários e afins. O filtro não possui tratamento químico algum e não elimina vírus, que são ainda menores do que a capacidade de filtragem do equipamento. Mas isso já basta! Contaminação por vírus está mais associada a dejetos orgânicos, típicos de centros urbanos, que não é o comum nas aventuras de contato com a natureza que priorizo.

Primeiro, preciso encontrar água, que está relacionado com pesquisa prévia, época do ano e informações locais que não vêm ao caso aqui. Uma vez encontrada a água, que não seja salobra, coleto a quantidade que preciso. Para coletar simplesmente, escolhi os famosos e clássicos DROMEDARY BAG da marca norte-americana MSR, leves, compactos e muito resistentes. Construídos de cordura, eles são extremamente resistentes a abrasões e perfurações. Vou levar vários e de diversos tamanhos comigo, pelo menos dois de 4 litros, dois de 2 litros e um de 10 litros. Somados ao sistema de hidratação que levo para consumo imediato na mochila, com capacidade de 3 litros, terei no mínimo 25 litros de capacidade de água. Quero chegar a 30 litros como capacidade máxima, pra me garantir em trechos mais secos do roteiro. Em aventura, meu consumo diário apenas para hidratação e alimentação fica entre 4 e 8 litros por um período de 24 horas, dependendo do esforço físico e do clima.

Depois de coletada, a água precisa ser filtrada. Mas isso não é regra absoluta. Na Patagônia, por exemplo, eu normalmente não filtro água, consumo do jeito que a natureza me oferece. Isso porque a ocupação humana, principal vetor de contaminação, é ainda muito pequena e esparsa na região. Basta escolher bem a fonte de água. Já na Mongólia, no sul a escassez de água é enorme e as chances de contaminação animal é enorme também, então vou adotar a regra de sempre filtrar a água disponível. O sistema de filtragem por gravidade vai facilitar muito todo o processo.

Descobri recentemente essas bolsas VECTO de transporte e consumo de água da renomada marca norte-americana CNOC OUTDOORS, que são incrivelmente simples, eficientes, leves e compactas. Trata-se de um reservatório de 2 litros feito de plástico siliconado muito mole e flexível, que possui uma boca gigante, da largura da própria bolsa, com fecho rápido, mais uma boca de tamanho tradicional igual à de uma garrafa PET. As vantagens do sistema são inúmeras. Vazias, as bolsas podem ser compactadas até quase desaparecerem. Cheias, são completamente vedadas, não permitem vazamentos em condições normais de uso e transporte. A boca larga facilita o enchimento e também a higienização. Uma bolsa tem detalhes em vermelho, que podemos associar com perigo e com água não tratada, enquanto a outra tem detalhes em azul, que podemos identificar como água tratada, potável e pronta para consumo. Todos os detalhes são bem pensados, as travas de correr têm um fio de silicone de proteção, que evita que elas caiam e até sejam perdidas. Uma régua em baixo relevo indica a quantidade de água no recipiente. Um furo na tampa permite que os recipientes sejam pendurados facilmente. Sugiro incluir no kit um pedaço de cordim e talvez um mosquetão, que não vêm no pacote.

Na prática, fica tudo muito simples e claro. Coleto água num DROMEDARY BAGe levo até o acampamento. Usando inclusive a própria bicicleta, com guidão e selim apoiados no chão, no caso de ausência de árvores, conecto as duas bolsas VECTO ao filtro SAWYER ALL IN ONE, a bolsa com detalhes vermelhos acima do filtro, contendo água não tratada, e a bolsa com detalhes azuis abaixo do filtro, coletando a água já tratada. Depois é só deixar a gravidade fazer o resto do trabalho. Esse filtro trabalha num ritmo de 1,4 litros por minuto e tem vida útil de dezenas de milhares de litros. Um dos maiores riscos é congelar o filtro, o que danifica o equipamento de forma irreversível.

Todo o conjunto, de dois filtros, duas bolsas, seringa para retrolavagem dos filtros e as pecinhas de conexão, tudo cabe dentro de um saco estanque de apenas 1 litro e não pesa nem 200 g. O filtro menor, MINI WATER FILTRATION SYSTEM, será meu equipamento reserva e também poderá ser usado diretamente no canudo do sistema de hidratação, que levo na mochila. Posso colocar água não tratada no reservatório de 3 litros, inserir o filtro no canudo, e filtrar enquanto bebo, em trânsito. O ideal é retrolavar, usando a seringa apropriada, depois de cada uso, cuidando sempre de retrolavar com água filtrada.

Pra completar o conjunto, levo também algumas pastilhas de cloro para dissolver na água, para emergências. Esse sistema de filtragem química não funciona bem, por exemplo, em expedições longas e árduas, como a EXPEDIÇÃO MONGÓLIA BIKEPACKING, de três meses de duração. A quantidade de pastilhas seria volumosa, delicada e complicada de transportar. Além disso, a limpeza química não elimina partículas sólidas, retidas em filtros.

Guilherme Cavallari

Blog Kalapalo Editora

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CHRISTIAN DRUMOND

Cardiologista, Pós graduado em Medicina do Esporte, Coach, Ciclista "Old School", Apaixonado por MTB, e Fundador do Segredos do Mountain Bike.

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