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19/12/2017

Christian

A primeira vitoria

Neste causo vou contar como finalmente consegui minha primeira vitória no MTB.
Na década de 80 eu e a maioria dos meus amigos tínhamos bicicletas de bicicross, conhecidas no exterior até hoje como BMX.
No Brasil a febre começou com o lançamento do filme ET de Steven Spielberg, rapidamente surgiram as primeiras pistas e os primeiros campeonatos.
Na década de 90 eu já tinha feito a minha migração para o mountain bike (MTB) como a maioria das pessoas que vinham do bicicross.
Em 1994 eu já praticava mountain bike (MTB) há alguns poucos anos. Fazia trilhas todos os finais de semana e participava de algumas provas. Na época havia poucas categorias e os pódios iam só até a terceira colocação. Não havia medalhas de participação.
Lembro-me que só o Iron Biker entregava medalhas de participação. Eu já tinha a minha, mas isso pode ser tema para outro causo.
Não era tarefa fácil para a maioria dos mortais como eu conseguir uma vitória nas provas de MTB. Os atletas vencedores eram praticamente sempre os mesmos.
Esta situação era meio frustrante. Então eis que surgiu uma oportunidade de ouro. Um grande amigo meu comentou comigo que haveria uma prova para estreantes.
Um dos critérios para participação da prova como estreante era não ter pontuação nos rankings das federações de MTB.
Seria uma boa oportunidade para tentarmos um pódio. Muito animados fomos pessoalmente à loja fazer nossas inscrições. Não existia naquela época essa coisa de inscrição pela internet que hoje é até obrigatório.
No sábado anterior ao dia da prova, a pista estava aberta para reconhecimento. Eram uns 20 km em duas voltas. O terreno tinha muitas partes de minério. Poucas subidas e muitas partes planas. Era um circuito muito rápido.
Lembro-me que a principal subida era puro minério, mas possuía caminhos de piso duro.

Aqui vem um segredo do MTB para conseguir uma vitória – conhecer a pista.

Subi várias vezes este trecho. Eu percebi que aquele seria o ponto crítico da prova. Quem subisse bem aquela parte da pista ficaria ficaria bem posicionado.
Fiz a mesma coisa no principal trecho de descida. Eram vários drops, raízes e curvas fechadas. Pelo menos é assim que me lembro. Desci e voltei algumas vezes olhando cuidadosamente os melhores lugares por onde passar.
No domingo, dia da prova, tudo estava pronto. Eu estava bem animado e confiante. Cheguei bem cedo. Tudo estava no jeito. Quase tudo.
A largada da prova foi sendo adiada e por fim eu já estava sentindo fome, e claro, como um bom estreante, eu não tinha comida. Aqui fica a dica

Esteja pronto para um atraso da organização. Tenha sempre comida adequada no dia da prova.

Acabei bebendo uma coca-cola e comendo uma coxinha de catupiry. Era melhor que ficar com fome, mesmo que isso liquidasse a minha prova.
Já no local da largada, encontrei-me com o Murilo, que acabava de vir de uma boa temporada de bicicross. Tinha sido campeão ou vice-campeão brasileiro. Era um atleta. Estava na minha categoria. Assuntei com ele como seria a sua estratégia de corrida.
Ele me disse: “-Vou cozinhar esta turma até o final da prova e na última reta vou sprintar para a vitória”. Na hora eu pensei:  “Ele não pode ser estreante”.  A realidade é que ele não tinha pontuação no ranking de MTB. pois só corria nas provas de bicicross.
Então veio o momento da largada. Coração na boca e sangue nos olhos. A largada foi um estouro da boiada.
Fiquei muito mal posicionado já no início e comecei a sentir a coxinha de catupiry fazendo efeito. Fui sendo ultrapassado um a um.
Comecei a ficar desanimado, mas fui como dava. De repente cheguei ao trecho que estudei no dia anterior. Os corredores estavam patinando no minério. Vários desesperados empurrando as bikes.
E eu fui passando pelas partes duras do piso, trocando de um lado para o outro. Quando me dei conta já tinha liquidado a subida. Passei muita gente. Recuperei o ânimo e a confiança.
Como seria uma prova rápida, não levei peso comigo. Nem mesmo água. Mas eu tinha apoio de água em dois pontos da prova. Um amigo em um ponto e o pai dele em outro ponto.
Quando cheguei no primeiro ponto de apoio, de longe eu já via meu amigo pulando e gritando: “Você é o segundo geral! PEDALA! PEDALA!”. Eu não acreditava.
Mas a coisa estava feia para o meu lado. A turma vinha rápido aproximando-se de mim. A boiada vindo atrás cada vez mais próxima. Chegamos na primeira descida técnica e eu consegui preservar minha colocação na prova.

A estratégia para a vitória

Passamos pela linha de chegada pela primeira vez. Mais uma volta ainda para o final. A estratégia seria a mesma.
Não me desesperar e refazer a subida de minério passando pela parte de piso firme. Sucesso. Ninguém tinha me alcançado ainda. Passei pelo apoio novamente. Meu amigo também não acreditava.
Mas o povo estava chegando mais uma vez. Murilo já tinha passado todo o pelotão e estava me buscando. Mais uma vez chegamos na descida técnica.
Murilo no meu pneu de trás. Desci como se não houvesse amanhã. Ele ainda na minha cola. Ele era muito rápido na descida. Conseguimos abrir muito dos outros corredores.
Comecei ouvir ao longe o locutor da prova já anunciando a belíssima prova de Murilo. Gritava o currículo dele. Eu só pensando na conversa do início de prova. “…sprintar para vitória”.
Na última reta, pedalei tudo o que eu nunca tinha pedalado antes e passei em primeiro lugar na minha categoria e segundo lugar geral, finalmente, vitória!
Aí veio a pérola da prova. Já no pódio na hora da foto, o Murilo me falou com jeito mineiro: “-Fedap%&#, cê ganhô, né?”
Esta frase virou um bordão entre amigos. Sempre que alguém chegava em segundo em uma subida, falava com o primeiro, enquanto aguardava a chegada dos próximos.
É isso. Foi assim que conquistei meu primeiro e único troféu de campeão em MTB, minha primeira vitória. Conquistei outros vários troféus e medalhas, mas estas são outras histórias.
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Por: Rafael Valle

 

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CHRISTIAN DRUMOND

Cardiologista, Pós graduado em Medicina do Esporte, Coach, Ciclista “Old School”, Apaixonado por MTB, e Fundador do Segredos do Mountain Bike.

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